terça-feira, 22 de agosto de 2017

Tão vivo... (você)





Não sei que horas são,
mas as sombras estão mais inclinadas do que deveriam;
as pessoas fecham seus rostos e seguem.
Não sei para onde seguir,
não mais localizo a única direção
que cabia às minhas limitações.
Parece uma falta de tempo,
a falta do tempo exato,
mas tempos e horas e gentes e sombras se suprem:
o mesmo não se dá com você.

Você, eu havia esquecido seu rosto
– seu exato rosto, não cópias ruins
que de mim exigem impossível adaptação.
Sim, eu me esqueci, mas algo aconteceu;
algo sempre acontece entre prantos e risos.

Eu vi você em meu sonho.
Você estava tão vivo
e o mundo tão luminoso
que nada poderia nos separar.
Eu disse o que jamais pude dizer no mundo real.
Ignorei que o tempo é curto em qualquer mundo,
sobretudo no dos amantes.
Você estava sorrindo e caminhávamos sem sentir os pés.
Cenas do passado e do futuro se misturavam
e não interferiam,
e você, você estava tão forte, vivo e real
que não pude deixar de abraçar você,
pensando como que dizendo:
“Abrace-me como se fosse o fim;
ensine-me a abraçar
e a ser mais do que isso
que vejo no espelho...
Tire de minha alma aquelas noites escuras
e esta sensação de que há coisas
só possíveis em sonhos!...”

O mundo então brilhou, embora eu não visse o brilho;
senti que tudo brilhou manso e vigoroso ao mesmo tempo –
em algum lugar; de algum modo insinuou-se
a Perfeição.
Foi tão curto, pensei haver lhe retido para sempre...
Eu não havia percebido
que você se dissipara enquanto eu chorava
na surreal felicidade
que por um momento julguei substancial.

Acordei sem saber que horas eram.
As sombras estavam mais inclinadas do que deveriam.
Havia uma ausência de tempo pairando no ar
e sempre haverá.

Algo sempre acontece.
Algo sempre acontece
entre risos e prantos...








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