terça-feira, 27 de março de 2018

A entrega






Sondo a ambiguidade superficial do teu baixo-ventre
entre avisos pontuados pelos lampejos
de minha consciência subitamente musicada.
Cada augúrio sussurrado por teus tênues corpos etéreos
a me envolver a solidez autoafirmada
refaz os meus céus
anilados de mansuetude.

Construída finalmente,
balsa bálsamo para longe de minhas estúpidas aventuras
misantrópicas, nestes fins de mundo utópicos
onde te carrego inerte como o mais luzente troféu
para minhas noites e dias e instantes
de rarefeita iluminação.

Agora não podemos mais arcar
com as consequências do morticínio
que fora a vanglória de nossos antepassados.

Não fugimos como nossos tolos heróis
de tão simplórios caracteres,
mais perdidos que vítimas;
não rimos apenas – indicamos os infinitos;
já aprendemos a saborear
a sucessão espasmódica das cores reais
de nossas irradiações hipnoevolutoras,
nosso deus sedutor,
nosso barco desbravador de horizontes
sobre o dourado oceano
das certezas sentidas.

“– Vive ao meu lado!”
– A voz da profecia já cumprida.

“– Vivo-te, amado,
simplesmente, adornado internamente
pelos teus feitos belissimamente inacabados.”

É a palavra que me toma, embriaga,
salteadora de honrada ocupação...
Mostras-me então a bússola condutora,
docemente caída das alturas
sobre nossos cabelos, já crescidos e
irrequietamente amadurecidos.

Eis aqui a concórdia aguardada,
sem moinhos gigantes, sem tormentos arfantes
e rimas – desmedidas.
Deixa-as entregues ao léu;
seduzes assim o céu com tua voz edênica.

Cabem mais palavras
agora que já abarcamos o Absoluto?
Cabe, isto sim, nosso sopro modernizador
de lares e ambientes corrompidos,
nossos firmes ou flexíveis estatutos
para nossa filha “civilização” pensada.

Mas... eis que o fim se aproxima,
mais uma vez, sem maiores alardes...
Nossas mãos unidas,
as mãos de um nas do outro,
como em prece...
O retorno eterno de tantas e tantas surreais
estradas, leitos,
mares e estreitos...

Percorremos a eterna fuga,
a infinita ebriedade
das conquistas mais íntimas...
O sentido vivo, meu amigo, o senso perdido
encara o abrigo volátil súbito-amansar
mútuo.
Densos – nós – agora na realeza do relato epistolar
saboreado por línguas mais singelas.

Esperamos pelo sol.
Fazemos questão de com ele despertar
as emoções inerentes ao confisco ocidental.
Orientes e Ocidentes piscam e pululam de excitação
ao nosso cantar dinâmico, multifocal
por entre os esguios monumentos simbólicos
do Novo País.

............................

Outro extrato pensativo pairando aqui:
urgência de seguir.

Hora de partir.

Missão cumprida por hoje,
o eterno hoje mítico, eternidades estabelecidas ciclicamente
pelos novos navegadores da beleza sondável...
Sondo-te, navego-te, mergulho em tuas praias vitalizantes,
santa imagem amante, santa proximidade distante,
amigo necessário,
necessidade hexagonal de meu coração
verbal.








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