domingo, 11 de março de 2018

O cinéfilo





O sono se insinua,
mas a pequena tela não se apaga;
o controle-remoto o chama de volta
do mundo do medo,
vasto e indefinido.
Os copos semivazios como companheiros
para um derradeiro fim de noite,
enquanto sobre telhados e peitoris
o céu chora
sua poesia impotente.

Encanada, entre corredores e vãos,
a tristeza cinematográfica,
bela, musicada, onírica e atraente,
é a segura referência
ao velho/jovem cinéfilo,
indeciso e neurastênico cinéfilo
que de passados sorvera um galão
e de sonhos dissipara suas nuvens
em maviosa explosão.

Uma nova sala de conforto
para o último e solitário brinde.

Lá dentro ele chora, eu sei.
É lá dentro que ele chora, posso apostar.
Enquanto o grande retângulo empoeirado
extrai o doce-amargo suco das lembranças,
enquanto o cone azul de luz
abençoa sua cabeça minúscula,
uma vida fragmentada espera
pela mais linda trilha já imaginada,
uma vida que aos pedaços espera
pela montagem reveladora;
a cena redentora
de uma jornada sem sentido,
em luminosos e lacrimejantes,
granulados instantes
de derradeiros fins de noite.








(Continuará…?)

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