sábado, 10 de março de 2018

Poema comestível I






Em busca de prazer?
Um encaixe polimorfo,
uma amorfa posição,
concretamente justaposta
às paredes internas de seus sentidos,
outrora sedados,
agora finalmente libertos?
O preço é um leve jugo,
se leve for sua alma (oca).
E então os novos prazeres e os antigos
terão a mesma lógica fundamental.

O verbo se faz forma;
a revolução, conteúdo;
histórica conquista enobrecendo a gula visionária
dos que sabem criar para além de si mesmos
a partir de sua própria fome.

Poemas comestíveis,
desprovidos de ilusão,
peças-chave na compreensão
do finito e do infinito.
Prazeres imprecisos,
vícios geométricos e assumidos,
outras tantas manifestações
de incertezas morfotranslúcidas.

Em busca de revolução?
Bem, não é tão simples assim.
Mas você pode começar contemplando sua genitália
e imaginando toda a política que será criada
a partir disto.
Medite depois nas ideologias fascistoides
que invadem sua intimidade.
(Bem lá no fundo.)
Absurdo? Bem...
Agora é só você e o mundo.
(Só não pense após agir.)

A revolução se faz cor,
sob o liso lacre da emoção velada.
Mas quem se dá conta disso?
A aurora de nossa independência
ainda culmina em nossa delinquência.

Poemas comestíveis,
despidos de mesuras,
rasgam as partituras
do dito e do não dito.
Prazeres imperfeitos,
sonhos ásperos em molduras polidas,
um episódio que lhe emocionou,
doces lembranças do mais belo ódio.

Em busca de uma nova chance?
Abra a boca e feche os olhos.

(A súbita alegria de saber
que somos somente tubos
altamente especializados.)








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