sexta-feira, 23 de março de 2018

Erotrip






“Será que somos só nós dois no quarto?”
“Onde se esconde o medo?”
Ora, derrame sua pragmática verdade sobre mim
e esqueça todo o resto!
Envolva-me com seus laços,
enlace-me como o íncubo indefeso que sou.
O universo está a nosso favor agora;
a intensidade do desejo autêntico e sagrado
suplanta todo e qualquer efeito colateral hipotético.
As madrugadas malditas desabam,
acusações improcedentes ferem,
mas tudo logo se cura,
pois há um universo só nosso, que dominamos;
o sangue que explode na tela
nos inocenta no tribunal da consciência.
Implodimos como estrelas de grandessíssima massa
e adentramos a nova dimensão nunca teorizada
– a nossa.
A canção de ninar suingada dos didgeridoos
no documentário aleatoriamente selecionado
fortalece e lubrifica agora o membro rijo
para os suaves golpes, contidos e expansivos
e as abominações consentidas pelas externas forças
pouco ou nada são diante do sentimento
de prazer atemporal.
Lá fora é só o vento – nenhum intrometimento –,
mas olhe bem aqui dentro:
guardo o segredo da vida para você.
Aproveite bem sua juventude enquanto é tempo,
pois dentro em breve a guerra e a paz mostrarão
nossas falsas cores...
numa radioteledifusão ideológica
de modernidades ultrapassadas.
(Os múltiplos assassinatos de Eros.)
Mas estamos acima disso.
Por cima um do outro, dentro de cada
anseio introspecto,
cada extroversão.
Corpos e delícias,
profundas e precisas carícias nos socorrem.
Serestas brumosas
entreerguem-se ao sopé de um monte-de-vênus.
Marte é mais belo,
somos vermelhos por dentro mas vivemos fugindo
de tons intensos em busca de pastéis neutros
que ofuscam ainda mais os nossos sentidos
para a realidade que não poderíamos negligenciar.
Não me negligencie agora.
Os milênios me moldaram para você.
As eras esperaram por este momento;
esforços incomensuráveis da natureza
para que estivéssemos aqui...
Não se esquive:
atenda ao magnetismo atrator.
Sonde a força contida
no pesadelo químico do meu corpo.
Seus nichos secretos
e deliciosamente estúpidos
sorriem para mim e me convidam
para nadar no entontecedor redemoinho
que arrebata meus anseios carnais
num carro de fogo serpentino
– uma tonitruante corrida
pelo cumprimento de um divino desígnio!

Um por um vão caindo sobre nós
os flocos crocantes da mais utópica castidade,
toda a sensual intrepidez de nossos espíritos.
espíritos.
espíritos.
espíritos.
espíritos.








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