Eu ainda sou
capaz de respirar
os sons que eu
mesmo escolhi
para vivenciar.
Ainda consigo
correr e voar
a aventura mais
extravagante já imaginada
pelas baterias
elétricas
dos meus
vagalumes de estimação.
Posso ainda e
sempre perder a medida
das palavras
saboreáveis
e das lutas
amáveis
no seio das
luas maternais
derretidas para
dentro da poção que borbulha
nas divisas dos
caminhos
adornadores dos silêncios noturnos.
O livro que
está em minhas mãos
não é feito dos
bárions da matéria.
Sei o que a faz
vibrar.
As maiores
verdades vislumbradas
na dimensão
extratempo
dos sonhos fora
do cérebro.
Quisera eu ser
em algum tempo
alguma criança
gigante
abraçadora de
mundos.
Os dardos de
luz passariam ao meu lado
pelos campos
até se reunirem
num comboio
até a terra
inexplorada
para explodirem
com bênçãos
de amor.
O mais simples
e o mais complexo
encontram um
denominador comum.
Os olhos que se
abrem em nós
quando cerramos
as pálpebras
podem enxergar
o foco
do grande olho
universal.
Ovo.
Posso sentir a
carícia
do gelo que
evapora com estalidos
dos meteoros
fugidios.
Posso pingar
morno
na boca sem
fundo do acaso
finalmente
determinado.
Nada pode ser
mais claro e óbvio e inteligível
que a fantasia
tornada carne
e rocha e
átomos
de
possibilidades infinitas.
Já não temo
mais
o que eles
chamam de “realismo”.
Posso encarar
de frente
o terror e o
amor
que insistem em
tentar invadir
meus
santuários.
Contemplo com
toda a coragem
o sangue que
sempre se derrama
e ouço
atentamente todos os relatos
de todas as
injustiças
cometidas
contra a carne do meu povo.
Algo de nós
jamais foi
queimado em estacas
ou martirizado
em praça pública.
E é esta a
única coisa no Universo
capaz de ouvir
e atender preces.
Não consigo
mais pensar
que falo apenas
por mim mesmo,
quando aquilo
que fala por minha boca
e escreve pelas
minhas mãos
é muito maior
que eu
e muito mais
profundo
que todas as
profundidades
em que eu seria
capaz de mergulhar.
Não vou virar
meu rosto nesta hora
e fugir para um
doce vazio transcendental.
Até mesmo os
piolhos que tive na infância
sabiam do fato:
o Zen está no
âmago da experiência.
Sou concreto,
anguloso,
sólido,
geométrico
e lindamente
delimitado
assimilando a
dor
das minhas
novas feridas.
Roseiras
exóticas
desabrocham no
asteroide azul.
Rochas e lavas podem tranquilamente
rolar,
os sismógrafos convulsionar e
estourar:
continuo no direito de escolher
onde meus pés se firmarão,
e até mesmo – por que não? –
escolher a localização dos meus
túmulos
das minhas muitas mortes.
Fiz as pazes com o pó.
As partículas deste Universo volúvel
se adaptam tão maleáveis
– e isto é uma inegável delícia.
A fragilidade das minhas moléculas
constituem sua força
e real importância.
A contínua substituição das partes
dos aparelhos de comunicação
são a garantia da perenidade
do comunicado.
Sou pura informação.
Tudo que se agrega a mim,
qualquer partícula,
gás, radiação, fótons e etecéteras,
contribuem a seu modo
para minha manifestação,
em diversos graus ou níveis.
Inclusive os horrores.
Inclusive o que me é desconhecido
e não compreendido.
O Deus desconhecido
e misterioso... eu o deixo lá
no Reino do Mistério.
Onde tudo é mais saboroso.
Onde não preciso explicar nada,
e nada fazer
além de, assim como ele,
simplesmente SER.
simplesmente SER.
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